28 de ago. de 2012















Em Japonês (愛)

Ai de mim!
Que sincronia perfeita...
Mesmo quando falta a letra
Nos fazemos entender, assim

Erramos no português?
Isso, aqui, não é problema:
Mandamos beijo em chinês
E pra ficar mais um pouquinho,
Tem amor em japonês! 愛

27 de ago. de 2012

Fechando o "Ciclo Maria"( algumas frutas)

Cidra

Erro
Suspender, ancorar...
reduzir a marcha de ser e o volume de estar.
Amargou, como uma cidra.
Eu quero o doce, eu quero é vida!

23 de ago. de 2012
















Caqui

Que garras são essas, cravadas, crispando em mim?
Tua vestimenta é noite e tem garras! Em quem mais faz isso?
Misturou marcas e pele...
A minha ficou marcada, mas não esqueça:
tens um pouco de mim nas unhas-garras.
Células minhas
E quando roubou meu olhar, com íris e tempo?
Com doçura, ou avidez, eu caqui maduro em tua boca.
Amadureci e me descompus
Quando há garras, agarras, há mãos?
Mãos que, nas minhas, peça chave do quebra-cabeças.
Mão cicatriz, na tua, na minha. Anéis sob medida e mãos que, sem padrão, desvelaram meu véu-camisa-branca, passearam por costas, barriga.
Ladrão!
Hoje, o que ficou, perfuma e lembra. Lembra?
Nada de métodos, desfigurando o "como manda o figurino"
Fomos...
Simples assim.

22 de ago. de 2012




















Caju



Dia travoso, caju amarrando boca, língua, transformando a garganta em nó.
E um anoitecer forçado. Horas tortas. Mal jeito com garrafas ( as vazias e cheias ) e o choro do céu, em seguida e contínuo. Dias de choro.
Você esteve aqui e velei teu sono: respiração entrecortada, muitas vezes profunda, contendo um turbilhão. Dormiu. Muito.
Eu não dormi. Amanheci noite e anoiteci dia, ao seu lado, só observando.
Olhos cerrados, pálpebras pétalas, cílios cortina...
Ontem voamos. Fomos coragem, medo não: porque não existe nada, nem "pra sempre", nem tempo. Somos trapezistas do nosso mundo.
Você partiu hoje, amanhã no caso de ontem, deixou o aroma em tudo meu.
E meu corpo girou, rodou ciranda. A cabeça, pensamento, velocidade da luz. Existe proteção para isso? O segredo era respirar fundo? Mas, como, se meu peito foi cela? Fui detida: " Mãos ao alto! Está presa por desacato a sua alma! "

Na cela, ouvi minha alma-cárcere:

- Ela divide sentimentos com você!
- Divide, sim... eu sinto e sei.
- E aposto que, quando unidas, o universo desaparece..
- Exatamente. Atravessamos aquele portal proibido, sabe? Onde não se conta tempo, nem sabem o significado das horas. As pessoas são espectros. E, danem-se!

20 de ago. de 2012


No Compasso ( A Dança )

Sangue
Bombando nas veias, clamando por vida
Sonho
Alimento da alma, povoando a mente
Riso
Encantando os ouvidos, curando a cegueira
Choro
Lavando tristeza, regando alegria
Luz
Nos olhos da gente, vacilo da idéia
Lamento
Dos desesperados, ou dos que lastimam
Som
Na ginga da dança, quebrando o silêncio
Nada
O avesso de tudo, de quem não precisa
Tempo
Ponto de partida, limite da espera

Fim.











17 de ago. de 2012



















Carta de Mim (Dentro)

Suspensa
Venho de onde, na verdade, nunca estive
Venho para trazer notícias de dentro
De mim.
O gosto do vinho e da vontade
O concreto e o abstrato
Em ritmo pleno, no entanto, sigo mansa...
Que venham as notícias, do Douro ou de um arranha céu.
O medo espreita
Escorre por outros assuntos, muitos
Ir embora? Pensar em nada?
Sem peso: segura a batida, vida! Ciranda!
Voltar e reconectar.
Ouvem o que escrevo?
Silencio de felicidade.
Suspensa
Incontrolável tempo bom...
Tropeço nas palavras
E trago notícias daqui
De mim.

24/05/2012

Ser, Fui, Serei ( Do Mesmo Rio - Devir )

Nasci outono
Titubeei inverno
Flor na primavera
Ardi verão
A mesma? Sou e não.

01/06/2012

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"E como são estilhaços
Do ser, as coisas dispersas
Quebro a alma em pedaços
E em pessoas diversas " (Pessoa)

Trocando Os Pés Pelas Mãos ( As Primazias )



Trocou os pés pelas mãos e sem poder caminhar,
com as mãos desenhou asas, soltou a alma e deixou voar...
Esculpiu sonhos, pensamentos
Roubou as chaves do tempo, trancou pra não passar.

Atordoado e confuso, nesse mal jeito de estar,
segurou firme o compasso, compôs seu caminho num rastro
Rabiscou o nome no ar.

Trocou os pés pelas mãos e sem poder caminhar,
fez do laço um abraço, cobriu de luz seu espaço
Sorriu para não chorar.

06/06/2012

15 de ago. de 2012






Romã


Ânima, leio em ti...
Detrás dessa quase melancolia
o brotar das lavas, que rebentam em premência
O olhar vago, busca incessante
curiosidade marota: ora graciosa, ora em histeria.

Em cada pedaço, em cada canto dentro
desdobram- se maravilhas e insurgências.
Fruta da casca arrebol: romã
Partida, derrama a polpa vermelha em gotas muitas, tenras
doce e ácida e doce...

Que o duelo que traz em si, Ânima, dentro, sufoca
Transborda, derrete e recua
Templo corpo.
Que a moral, imposta, é faca no peito e sangra
E onde quer que sangre, e porquê, deixa sangrar até esvair
Pra ver como é,
sentir.

Firma os pés na clareza, se agarra na certeza, quando há
Se alimenta de vida, quando há
Saber- te, Ânima...
O direito e o avesso.

Julho/ 2012
                                             Starry Night Over The Rhone - Vincent Van Gogh 

                                                                

                                                                 JABUTICABA



Então fomos para sua praia! Sentamos na frente " de casa ", fim de tarde, brisa, cerveja  ( cabe tudo, porque faz-de-conta )...
Sentada ao seu lado, cadeiras iguais ( dessas de praia, que já se compra de dupla ) . E nessa tarde, nos entregamos às horas, porque elas eram nossas.
Fizemos alguma brincadeira sobre o contraste de nossas cores, após o sol que tomamos de dia, unindo os braços e falando bobagens, palavras de sorrir. E ao soltar os braços, deixamos os dedinhos enroscados um no outro. Um quase descompromisso, ou quase não querer soltar.
E nesse embalo, conversamos de vidas e sonhos. Das que já vivemos e das que estão por vir... Dos sonhos que já sonhamos, os dejavus, e os que queremos sonhar mais ainda.
Reparei em como seus olhos, com a luz do fim da tarde, ficam num tom castanho bem mais claro, tendendo para o mel. A noite: duas jabuticabas.
E quando a noite "jaboticabou", caminhamos até o píer, para ouvir as ondas mansinhas batendo nas pedras e ver o show de estrelas no céu.
Eu sentei, apoiei minhas costas em um dos pilares de madeira e você fez do meu colo seu apoio.
Por alguns minutos, ficamos em silêncio. ( Eu, brincando nos teus cabelos ) Não daqueles silêncios constrangedores, um silêncio bom.
Dois olhares para o mesmo céu: perspectivas diferentes. 
Quebramos o silêncio, juntas, falando sobre o mesmo assunto, em sincronia : a vista do apartamento do sumaré! E isso nos fez rir bastante, um riso que terminou com uma pergunta minha: 
- Sabe do quê eu tenho medo?
- Do que vc tem medo? (posso enxergar e ouvir vc falando e repetindo as palavras ) 
- Do píer ruir com a gente em cima. E vc?
 E você falou de um medo seu, eu falei de outro meu, e assim fomos fazendo um " duelo " de medos.
Resolvemos, juntas, dar um nome para cada medo e escolher uma estrela pra ele.
E até os medos mais difíceis de falar, ficaram diferentes, porque a gente queria logo imaginar um nome bem doido e escolher a estrela!
As estrelas morrem e isso nos confortou. 
Nascem outras, nascem outros medos, e morrem.
 (Agosto/2012)